A relação entre humanos e animais sempre foi marcada por laços profundos, mas, nos últimos anos, a ciência tem comprovado o impacto positivo dessa interação no campo da saúde. A Intervenção Assistida por Animais (IAA), metodologia que utiliza cães e outros bichos no auxílio ao tratamento de pacientes, vem ganhando espaço em hospitais e instituições de saúde no Brasil.
Estudos comprovam que a interação com animais reduz os níveis de estresse e ansiedade, melhora o humor e até contribui para a recuperação física dos pacientes. Um exemplo dessa prática é o trabalho realizado por Dom, um golden retriever que atua em projetos de terapia assistida, levando conforto e bem-estar a pacientes em hospitais e instituições de saúde.
Dom: Um Cão Treinado para Cuidar e Confortar
Dom não é um cão comum. Desde filhote, ele foi selecionado e treinado para atuar como um cão terapêutico, passando por um rigoroso processo de socialização e adestramento. Segundo seu tutor, Fábio Barreto, a escolha de um cão para esse tipo de trabalho começa ainda na fase inicial de vida, levando em consideração a genética e o temperamento do animal.
“No melhor cenário, quando a gente precisa de um cão para uma determinada função, buscamos nos pais, nos avós, numa genética, tudo que foi feito para que o animal tenha um comportamento adequado. Assim, conseguimos selecionar um filhote com maior assertividade para o trabalho na fase adulta”, explica Barreto.
O treinamento de Dom envolveu diversas etapas, desde a habituação com diferentes ambientes e estímulos até o desenvolvimento de tolerância e paciência. Ele precisa aprender a lidar com cadeiras de rodas, macas, sons de equipamentos hospitalares e a presença constante de pessoas em diferentes estados emocionais.
Além do trabalho nos hospitais, Dom também atua junto a crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Sua primeira experiência foi na APAE de Barra Mansa, onde propôs uma interação natural e acolhedora com os autistas. “Foi uma coisa muito orgânica, a receptividade das crianças foi incrível, e a postura dele mostrou que podíamos direcioná-lo também para essa área”, conta Barreto. Hoje, Dom desempenha um papel importante na promoção da socialização e na redução da ansiedade dessas crianças.
O que é a Intervenção Assistida por Animais (IAA)?
A IAA é uma abordagem terapêutica em que os animais atuam como mediadores no tratamento de diversas condições físicas e emocionais. Ela é aplicada em hospitais, clínicas, lares para idosos e instituições que atendem pessoas com deficiência intelectual e múltipla. Os benefícios vão desde a redução da pressão arterial e liberação de hormônios do bem-estar até a melhoria na comunicação e socialização de pacientes com transtornos do espectro autista.
Um estudo publicado na Revista Bioética revelou que, entre os pacientes submetidos ao IAA, 36% relataram satisfação pessoal, 28% sentiram-se distraídos da rotina hospitalar e 12% experimentaram uma sensação de calma. Os números confirmam o impacto positivo da presença dos animais no contexto clínico.
“O cão chega para quebrar um clima muito pesado do ambiente hospitalar. Ele consegue oferecer algo que nenhum outro medicamento pode dar: o vínculo social”, destaca Gustavo Pacheco, adestrador do Dom. Segundo ele, essa conexão emocional com o animal desencadeia a liberação de ocitocina, hormônios ligados ao bem-estar, promovendo uma sensação de felicidade e conforto.
Os Benefícios da Terapia com Cães
A terapia assistida por cães traz uma série de benefícios para pacientes hospitalizados, pessoas com TEA e idosos. A comodidade da presença de um cão como Dom pode reduzir a sensação de solidão, proporcionar emoção e estimular a interação social. Nos hospitais, muitos pacientes relatam sentir falta de seus próprios animais de estimação durante a internação. A visita de um cão terapêutico ajuda a amenizar essa saudade.
“Todo mundo tem uma história com um cachorrinho que já teve ou tem em casa. E quando a gente chega com o Dom, as pessoas lembram dessa afeição, juntas memórias, choram, sorriem. Esse momento de acolhimento é muito significativo para elas”, relata Gustavo.
Outro ponto relevante é o impacto na equipe médica e nos familiares dos pacientes. Profissionais da saúde que convivem diariamente com a pressão de um ambiente hospitalar também se beneficiam da presença de animais, que ajudam a tornar o ambiente mais leve e humanizado.
A Terapia Assistida por Animais ainda enfrenta desafios, como a regulamentação e a ampliação dos programas para mais instituições. No entanto, iniciativas como a de Dom e sua equipe mostram que os benefícios são amplamente reconhecidos e já vêm sendo incorporados a diferentes conteúdos.
No Hospital da Fundação Oswaldo Aranha (H.FOA), Dom realiza visitas regulares, proporcionando momentos de conforto para enfermos, acompanhantes e profissionais da saúde. Sua presença no ambiente hospitalar ajuda a reduzir o estresse, melhorar o humor dos pacientes e até mesmo auxiliar na recuperação emocional durante a internação. Em muitos casos, ele se torna um elo entre os profissionais de saúde e os pacientes, facilitando o atendimento e promovendo um ambiente mais humanizado.
“É impressionante ver a transformação no semblante dos pacientes quando o Dom entra no quarto ou percorre os corredores do hospital. Muitos que foram retraídos passam a interagir, sorrir, conversar e compartilhar suas histórias com ele”, destaca Gustavo Pacheco, adestrador do cão.
O aumento das pesquisas e o reconhecimento da Intervenção Assistida por Animais como parte complementar do tratamento médico podem levar a uma maior adoção da prática em hospitais e centros de reabilitação. Com cães como Dom, que dedicam sua vida a levar conforto e carinho, a esperança é que mais pacientes possam se beneficiar dessa abordagem inovadora e transformadora, tornando o cuidado à saúde ainda mais humanizado.
